Tratamento Clínico

Em todo o mundo, até poucos anos atrás, foram tentados inúmeros tratamentos clínicos para a hiperidrose, mas todos eles eram apenas paliativos e de efeito temporário ou mesmo nulo.

Em 2007 nosso grupo iniciou um projeto científico importante no Hospital Albert Einstein e no Hospital das Clínicas da FMUSP avaliando o uso de uma droga anticolinérgica (Cloridrato de oxibutinina) até então apenas utilizada para o tratamento de incontinência urinária. Após mais de 6 anos de estudos conseguimos hoje comprovar bons resultados com essa medicação para mais de 70% dos pacientes com hiperidrose. Trata-se de medicação de uso contínuo, que deve ser prescrita sob orientação médica para a maioria dos doentes. Em nosso grupo, a menos que o paciente apresente alguma contra-indicação para o uso da mesma, é considerado o tratamento inicial.

A oxibutinina usada em baixas doses (sob acompanhamento médico), gera grande melhora na qualidade de vida dos pacientes por diminuir a sudorese em todos os pontos de hiperidrose em mais de 70% dos pacientes.

Outras opções não-cirúrgicas para o tratamento da hiperidrose são limitadas e incluem: tratamentos dermatológicos pela aplicação de soluções ou cremes adstringentes; a iontoforese (banhos elétricos com água salgada na área afetada), que pode reduzir o suor em áreas específicas, mas apenas por um período de 6 horas a uma semana; a injeção de toxina da bactéria “Botulinus” (Botox) sob a pele pode funcionar por 4 a 6 meses, mas são necessárias cerca de 50 aplicações (injeções) em cada mão.

Quando o tratamento clínico não funciona, aí o tratamento cirúrgico é aventado.

Tratamento Cirúrgico

Desde 1926 pratica-se a operação para correção de hiperidrose (simpatectomia). O tratamento cirúrgico da hiperidrose envolve a retirada ou a destruição de uma porção específica da cadeia simpática ( É uma cadeia nervosa que corre sobre toda a coluna) e apenas recentemente, com novas técnicas de vídeo-cirurgia, anestésicas e do instrumental cirúrgico, é que se desenvolveu um procedimento efetivo e minimamente invasivo. A técnica tem precisão anatômica, além de ser cosmeticamente aceitável e associado a baixo índice de complicações.

Indicação:

A decisão com relação à cirurgia depende inteiramente do nível de aflição sofrida pelo paciente. Os efeitos esperados do procedimento devem ser avaliados com o risco de complicações e efeitos colaterais. Cirurgias torácicas prévias, obesidade, idade avançada e outras patologias associadas, reduzem as chances de sucesso da operação e aumentam o risco de complicações.

Técnica:

A operação sempre conta com dois médicos, cada qual em sua especialidade (cirurgiões vasculares e torácicos). O método aplicado conta com a utilização do bisturi harmônico e de incisões plásticas que praticamente não deixam cicatrizes. A operação é realizada com anestesia geral. Dois instrumentos endoscópicos, do diâmetro aproximado de um lápis (0,5 cm), são introduzidos na cavidade torácica. Um deles tem uma câmara de TV embutida, mostrando as estruturas com nitidez, iluminação e precisão e, no outro, são introduzidos os instrumentos cirúrgicos. O pulmão é deslocado para baixo e a cadeia simpática, que fica sobreposto às costelas, ao lado da coluna é identificada. A cadeia é então ressecada ou termocoagulada. Ambos os lados são operados no mesmo ato cirúrgico. O procedimento dura cerca de 20 minutos para cada lado em 90% dos casos.

Esquema da cadeia simpática dentro do tórax

Resultados e efeitos:

Temos investigado, rotineiramente, pelo exame clínico e pelos questionários, os resultados do procedimento no pós-operatório imediato, no primeiro retorno para a retirada dos pontos, durante os primeiros 30 dias e ainda após vários meses ou anos. Após mais de 2500 pacientes operados, mais de 95% experimentaram alívio do suor das mãos, axilas e face. As complicações cirúrgicas são pouco frequentes (menos do que 1%) e quando ocorrem, geralmente não são graves nem acarretam risco de vida aos pacientes. Em nosso grupo, nunca tivemos a necessidade de abrir o tórax de um paciente para corrigir alguma complicação. Pequenas hemorragias e vazamentos de ar dos pulmões ocorreram em menos de 1% dos nossos pacientes. Estas intercorrências, todavia, são facilmente resolvidas pela simples manutenção do dreno pleural por alguns dias. O grande problema dessa cirurgia é a HIPERIDROSE COMPENSATÓRIA.

Hiperidrose compensatória:

O suor em excesso, que geralmente acontece em determinadas regiões (mãos, pés, axila), pode “trocar” de lugar após a cirurgia. Este é um evento muito frequente, isto é, quase todos que são submetidos a simpatectomia passam a suar em regiões em que antes não transpiravam (as mais comuns são barriga, costas e peito). Ainda não se sabe, definitivamente, o porquê deste fenômeno. Felizmente, a maioria das pessoas sua nestas regiões numa intensidade que pouco incomoda, mas uma minoria (que pode variar de 1 a 5%) tem sudorese nestes territórios em um volume igual ou pior do que na área inicial; estes indivíduos, por vezes, precisam trocar de camisa algumas vezes por dia, de tão intensa a sudorese que pode surgir no tronco.   Infelizmente, não há (pelo menos ainda) como saber quem fará parte desta (pequena) parcela; por este motivo, sempre no pré-operatório da cirurgia, os doentes são questionados se aceitariam o risco de trocar o suor (das mãos, por exemplo) pela mesma quantidade de transpiração na barriga, no peito – ou em outros lugares. Este efeito (hiperhidrose compensatória) não ocorre no uso das medicações para sudorese excessiva.